João Soares irredutível contra aeroporto da Ota
João Soares em defesa da sua dama: «A Portela pode chegar aos 30 milhões de passageiros»
O Presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, continua a apostar numa calendarização das grandes obras públicas nacionais que atire o novo aeroporto internacional da Ota para as «calendas», dando tempo à expansão do aeroporto da Portela, na capital, e acabando por retirar razão de ser ao novo equipamento. Enquanto vai afirmando publicamente que «o ministro Jorge Coelho é um homem aberto», o autarca parece estar a concentrar a sua estratégia na tentativa de revisão das prioridades do Ministério do Equipamento, convencido como está de que o actual titular da pasta será mais permeável do que o seu antecessor, João Cravinho, aos argumentos a favor do adiamento da Ota.
«Não mudei uma vírgula à minha posição: acho um disparate arrancar com aquela obra agora», disse Soares ao EXPRESSO, já depois da ida do ministro à Assembleia da República para defender o projecto. O autarca considera que «todos os dados novos que apareceram, os tais relatórios que estavam na gaveta, vieram dar-me razão: a Portela tem todas as condições para chegar aos 30 ou 35 milhões de passageiros».
Soares refuta os rumores de que estaria a flexibilizar a sua oposição à transferência do aeroporto: «Pelo contrário, os que defendem a Ota é que mudaram; antes diziam que a Portela não aguentava mais passageiros, agora dizem que a Portela aguenta mas os acessos é que não».
O «ovo de Colombo» anunciado pelo ministro aos deputados - o «check-in» avançado na Gare do Oriente - é considerado inviável pelo autarca. Segundo afirma, as carreiras TGV nunca poderão ter a frequência necessária para servir o aeroporto, enquanto outro comboio para esse fim «não é possível, a Gare do Oriente não aguenta».
O presidente da Câmara de Lisboa defende a extensão do metropolitano até à Portela e a criação de «novos tipos» de transportes para resolver o problema dos acessos. E sustenta que «os acessos previstos à Ota são, de qualquer forma, sempre piores do que a Portela com metro». Quanto à sua posição no caso de Jorge Coelho persistir no projecto, limita-se a afirmar: «Ele tem as suas competências e eu tenho as minhas. Mas não digo que vou passar à luta armada...»
«Lobby» do Norte também se opõe
Também no Norte, o recém-criado Fórum para o Desenvolvimento e Modernização permitiu ao presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, apresentar «uma frente comum» contra o aeroporto da Ota e a favor de «um melhor aproveitamento dos dinheiros públicos» na construção de uma linha de TGV Lisboa-Porto-Corunha.
As críticas ao projecto de Jorge Coelho convergem com algumas das razões de João Soares e recuperam argumentos já usados contra João Cravinho: faltam estudos que justifiquem o investimento, a Portela tem capacidade para 30 milhões de passageiros e é urgente não comprometer, com a concorrência da Ota, o potencial de desenvolvimento do aeroporto Sá Carneiro, no Porto.
O principal trunfo do Fórum é a concertação de posições da autarquia portuense, das universidades do Porto, Católica e Portucalense, das associações Empresarial de Portugal, de Jovens Empresários e de Comerciantes do Porto, da Associação Comercial e da União dos Industriais de Hotelaria do Norte. O Fórum deu tanta importância à polémica aeroportuária que lhe dedicou a sua primeira reunião, adiando a questão do metropolitano do Porto.
O suporte institucional alargado coloca Nuno Cardoso numa posição mais confortável para enfrentar os seus correligionários do PS/Porto. Narciso Miranda, que acumula o cargo de secretário de Estado no ministério de Jorge Coelho com a presidência da distrital socialista, defende a Ota e diz que, depois de garantido «um grande aeroporto internacional para o Porto em 2003, as críticas ao projecto reflectem um discurso redutor».
FREDERICO CARVALHO e MARGARIDA CARDOSO
in Expresso, 15.01.2000
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